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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Bergamo: cidade baixa e alta

Panorama de Bergamo Alta

Panorama de Bergamo Baixa. Ao fundo, o Aeroporto de Orio al Serio

Como havia citado no post anterior, Bergamo é dividida em duas partes: a cidade baixa (Bergamo Bassa) e a cidade alta (Bergamo Alta). Antigamente, a parte baixa da cidade era formada por burgos, enquanto a parte alta era fortificada e circundada por muralhas, levantadas no século XVI durante a dominação veneziana em Bergamo e em grande parte da Lombardia.


Apesar de não ser um grande centro urbano e de ter características de uma cidade provinciana, Bergamo é bem desenvolvida no que se refere à cultura, indústria e economia, sobretudo no setor turístico. 


Nosso passeio terá como ponto de partida a estação de trem da cidade, localizada no centro da cidade e bem acessível ao aeroporto e terminal rodoviário. Bem de frente à saída, logo após atravessar uma pracinha, vemos uma rua larga e comprida, a via Papa Giovanni XXIII, e ao fundo, no final desta, sobre um monte, está Bergamo Alta.

A via Papa Giovanni XXIII è uma das principais vias de acesso da cidade e em meados de dezembro, é comum vê-la mais movimentada ainda e cheia de barraquinhas, os famosos mercadinhos de Natal, além de parquinhos de diversão para crianças. Os monumentos mais notáveis que lá se encontram são as galerias colunadas da Porta Nuova, a Torre dei Caduti (em homenagem aos combatentes da guerra), a igreja de Santa Maria delle Grazie, o Teatro Donizetti, homenagem ao célebre compositor italiano e a igreja de San Bartolomeo. Claro que estes são apenas alguns dos tantos outros pontos turísticos da parte baixa de Bergamo e que serão conhecidos à medida que eu for conhecendo mais a cidade.


As Porte Nuove (à esquerda e à direita) e a Torre dei Caduti. Ao fundo, Bergamo Alta


Chiesa di Santa Maria delle Grazie

Além do turismo, Bergamo também é um lugar muito procurado para compras. Na parte baixa da cidade, especialmente nas ruas XX Settembre e Sant'Alessandro é possível encontrar uma grande variedade de lojas que oferecem preços, muitas vezes, imperdíveis (principalmente nas épocas das liquidações, que acontecem depois das festas de fim de ano ou no final do verão ). São lojas que vão desde grandes magazines como Benetton, Kiko, OVS, Tiffany&Co. até estabelecimentos de pequenos proprietários.


Mas o ponto turístico por excelência de Bergamo é a Città Alta. Majestosa sobre a colina, não há como resistir aos encantos e beleza de uma cidade que ainda conserva suas características medievais, ainda toda circundada por muros  e coroada por torres. 


Estação da funicular de Città Alta


Como já havia escrito anteriormente, é possível subir até a cidade alta de ônibus, a pé ou de funicular. De ônibus é até prático, porque passa na porta da estação de trem (e não tem como errar, o nome no letreiro é Bergamo Alta). Se alguém escolher ir a pé, também é uma boa opção para os mais atléticos (a subida é um poquinho cansativa). Mas o que acho mais interessante é subir com o funicolare. Custa pouco mais de 1 euro e o bilhete vale por 75 minutos a partir do momento que foi passado pela catraca, além de ser novidade e poder admirar uma bela vista da cidade durante o caminho (pena que o trajeto dura só 5 minutos). Para quem está de carro, é bom tomar cuidado com as multas e se informar sobre dias e horários de circulação. Um conselho é deixar o carro em algum estacionamento da parte baixa da cidade.


Trilhos da funicular 


La Rocca 


Finalmente chegamos e é hora de ver o que tem na famosa Bergamo Alta. Sempre que vou para lá começo pela Rocca, um castelo medieval que servia de fortaleza à cidade; hoje é sede do Museu Histórico. Por ter tido funções militares no período napoleônico e austro-húngaro, a Rocca abriga alguns equipamentos como antigos canhões e um tanque de guerra. Ao lado há um lindo parque (fica mais bonito ainda na primavera e no outono, quando a natureza se encarrega de dar um toque de cores vivas), o Parco delle Rimembranze, que circunda todo o castelo e uma pequena praça de onde se tem uma vista espetacular da parte baixa de Bergamo.




Parte do Parco delle Rimembranze no outono




Outro local de grande movimento turístico é a Piazza Vecchia, o centro de Bergamo Alta. Mas antes de chegar até lá, passamos por algumas ruas estreitas cheias de lojas, restaurantes, cafeterias, casas antigas com belos jardins e igrejinhas que valem a pena serem visitadas. Tudo medieval e bem característico.


Antigo lavadouro de Bergamo Alta


Piazza Luigi Angelini


Na Piazza Vecchia encontram-se a Biblioteca Angelo Maj, um elegante palácio barroco que um tempo foi sede do Município, o chafariz da família Contarini (uma importante família veneziana dos tempos em que Bergamo estava sob domínio da República de Veneza), o Palazzo della Ragione, antigo centro administrativo da época feudal, a Torre Civica e a Accademia Carrara, importante pinacoteca da cidade. Do lado de trás da praça, depois de passar pelo Palazzo della Ragione e a pinacoteca, surgem o Batistério, a Cappella Colleoni, a basílica de Santa Maria Maggiore e o Duomo.


Piazza Vecchia


Biblioteca Angelo Maj e Fontana dei Contarini


O interior do Duomo di Bergamo é mais sóbrio em relação à Basilica di Santa Maria Maggiore, que apresenta uma fachada em estilo românico-lombardo do século XII, enquanto o interior é todo decorado em estilo barroco. O que me surpreendeu da primeira vez que entrei lá foi uma caveira sobre dois fêmures (igual ao símbolo de "perigo") em madeira sobre uma cruz, acima de uma estátua de Jesus Cristo exageradamente magro e sofredor, no altar-mor. Parece que aquele símbolo era muito na época em que a Europa foi devastada pela peste negra (século XIV). Mas não pensem que a igreja é macabra, ao contrário. Na "parede" de madeira que divide o altar dos bancos onde assistimos missa (a iconóstase), vemos algumas incisões que retratam algumas passagens bíblicas, como a Passagem pelo Mar Vermelho, o Dilúvio Universal, Judite e Holofernes e David e Golias; é de se notar a perfeição e minúcia dos desenhos. O teto é inteiramente coberto de afrescos e o que mais acho interessante, embora seja pequeno, é o da vida de Jesus Cristo (na ala direita da basílica em direção ao altar). 


Palazzo della Ragione e Duomo di Bergamo

Interior do Duomo di Bergamo


Cappella Colleoni (em destaque) e a basílica de Santa Maria Maggiore (à esquerda)


Cúpula afrescada da basílica de Santa Maria Maggiore


Batistério


Outro lugar imperdível é a Porta di San Giacomo, de onde se tem uma vista estupenda de Bergamo, dos Alpes e do Aeroporto Orio al Serio. O espetáculo é maior ao amanhecer ou entardecer principalmente ao amanhecer ou entardecer, quando os edifícios em torno adquirem uma cor alaranjada e começam a acender as primeiras luzes.


Porta de San Giacomo e vista parcial de Bergamo


Antes de descer, não deixem de passar em uma cafeteria dentro da estação de funiculares, onde é possível admirar Bergamo do alto saboreando um café, um cappuccino ou um suco de frutas. Mas já aviso que é difícil encontrar um lugar na varanda, principalmente no verão...


Para concluir, deixo alguns links de sites sobre Bergamo se caso alguém queira saber mais a respeito da cidade, da cultura e, principalmente, sobre hotéis, restaurantes e transporte público:


Provincia di Bergamo

Bergamo: Città dei Mille

Parte do panorama de Bergamo


É uma das minhas cidades preferidas da Itália, apesar de morar na "rival" Brescia.

Bergamo era a rota do caminho para Milão, percurso que fazia todo o santo dia quando estudava na capital meneghina. Como sempre estava escuro, já que passava por lá ou de manhãzinha ou à noite, quase não via nada da cidade. Um belo dia porém, da primeira vez que minhas aulas terminaram mais cedo, finalmente pude ver e me admirar com a vista de Bergamo. Não sei se foi por causa do sol de outono que dava uma luz amarela, bem calma, característica de tardes pacatas (será que sou só eu que sinto isso?) ou se era por causa de ver a cidade pela primeira vez... e ainda nem tinha visto a parte alta. Para dizer a verdade, nem sabia que aquela cidade toda bonitinha era Bergamo, pois não tinha familiaridade com nada, estava um pouco perdida com noções de tempo e espaço. 

Fui conhecer realmente a cidade só em meados de dezembro, depois de um mês na Itália, num domingo à tarde. Foi nesse dia que conheci a famosa Bergamo Alta, o centro antigo da cidade que fica sobre uma colina. Para subir até lá, podemos ir a pé, de ônibus ou então com o funicolare, mais interessante por ser novidade (pelo menos para mim era). Não é por acaso que o nome Bergamo deriva do celta Bèrghem, nome ainda usado no dialeto bergamasco e que significa "casa sobre a colina" (bèrg = monte, colina; hem = casa). Durante o Império Romano o nome foi latinizado para Bergomum e daí o nome atual, em italiano. Interessante que no alemão moderno berg é "montanha" e heim "casa" ou "lar", assim como no sueco.

Por que Bergamo é também conhecida por Città dei Mille? Certa vez vi este nome na placa de entrada da cidade e fiquei curiosa. Então fui pesquisar na Internet e vi que é por causa da Spedizione dei Mille (Expedição dos Mil) e da época do Risorgimento italiano (Ressurgimento), movimentos para a unificação da Itália. Para quem quiser saber mais a respeito, deixo os links abaixo:


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Verona: Castelvecchio

Castelvecchio

Um outro belíssimo e grandioso monumento de Verona é o Castelvecchio, que na realidade se chama Castello di San Martino in Aquaro. O castelo, construído pela família scaligera em 1354, leva o nome de "Castelvecchio" (Castelo Velho) para se distinguir das sucessivas fortificações que surgiram no decorrer dos anos. Sua função era ser acessível e, ao mesmo tempo, uma fortaleza. Após o fim da dinastia scaligera, o castelo jèa foi ocupado por viscondes, tornou-se um arsenal durante o domínio veneziano, foi ocupado e modificado pelos franceses na época da invasão napoleônica e até utilizado como quartel durante a dominação austríaca. Somente em 1924 que o Castelvecchio deixou de ser militar e passou a ser sede do Museu Cívico, mas para isso teve que ser inteiramente reformado, com o levantamento e reconstrução de algumas torres. 

Pátio do castelo

Castelvecchio às margens do rio Ádige

Do Castelvecchio é possivel atravessar o rio Ádige pela Ponte Scaligero. A célebre ponte, que pertence ao sistema defensivo e logístico do castelo, tem 120 metros de comprimento e está dividida em três arcadas assimétricas, apoiadas por dois fortes pilares. Estes possuem escadas para o topo, formando pequenos mirantes, e de lá conseguimos visualizar o Rio Ádige e parte da cidade. Em 1945, os alemães fizeram explodir a ponte, que foi fielmente reconstruída entre 1950 e 1951 com as pedras e tijolos originais recuperados do fundo do rio.


Um dos mirantes da Ponte Scaligera
Vista de Verona e do rio Ádige que se tem da ponte

Verona: Casa da Julieta Capuleto

Estátua de Julieta


Outro point turístico de Verona, principalmente para os apaixonados, é a Casa da Julieta. Na realidade, o casal criado por Shakespeare nunca existiu, mas as respectivas famílias sim, os Montecchi e os Capuleti (que na verdade se chamavam Cappelletti).

Os Montecchi não moravam em Verona (embora exista uma casa próxima às Arche Scaligere que dizem ser de Romeu e sua família) mas em uma cidade da província de Vicenza, também na região do Vêneto, chamada Montecchio.


A famosa casa de Julieta

Os Capuleti residiam no palacete da Via Cappello (talvez o nome da rua se deu por causa do nome da família, ou vice-versa), onde hoje recebe visitas de milhares de turistas. Durante os últimos anos da década de 1930, por causa do sucesso do filme norte-americano Romeo and Juliet, a casa da Via Cappello passou por grandes reformas para dar a atmosfera medieval e a ambientação da história dos dois amantes. Na fachada que dá para o pátio, entrada principal da casa, foram colocados as janelas góticas, retiradas de outros edifícios, e o famoso balcão, lugar onde o casal trocava juras de amor.

No corredor que dá acesso ao pátio e à casa dos Capuleti, encontramos paredes todas escritas, pois quem visita a casa deve deixar registrado um recado com seu nome e do amado/a. A tradição também diz que, para ter sorte no amor, deve-se colocar a mão nos seios da estátua de Julieta quando for tirar uma foto. Não sei quem a inventou, mas que é rigorosamente obedecido isso sim...


Pátio da casa de Julieta


Nada interessante o interior da casa. Achei que seria uma reprodução da casa dos Capeleti, com móveis e objetos da época e, ao invés, encontrei exposição de obras de arte moderna. A única menção ao casal foi o quarto de Julieta e as roupas dela e de Romeu que foram usadas no filme.


Cama de Julieta, usada no filme Romeo and Juliet

Além da casa, há também em Verona, no Museo degli Affreschi, o túmulo fictício de Julieta. Na antiga horta do convento dos frades Capuchinhos, a atual sede do museu, foi encontrado um antigo túmulo sem tampa, talvez de época romana e usado para outros fins nos séculos sucessivos. Foi aí que o responsável pelo museu teve a ideia de transformar o lugar na sepultura de Julieta e, desde 1937, o lugar é visitado por turistas curiosos e apaixonados pela tragédia de Shakespeare.


Túmulo fictício de Julieta nos porões do Museo degli Affreschi

Verona: as praças

Il liston di Piazza Bra

A Piazza Bra é maior praça de Verona e seu nome é originário do termo braida que, por sua vez, deriva do alemão breit, ou seja, largo, amplo, um vasto espaço. E de fato é uma praça grande com diversos palácios, casas e monumentos de épocas muito diferentes entre si, desde a Antiguidade Romana até o século XIX. 


Chafariz da Piazza Bra com a Arena ao fundo

Sede do Município de Verona
  
Para quem chega dos Portoni della Bra, à esquerda encontrará o Teatro Filarmonico, cuja construção iniciou-se em 1716, mas só foi concluído em 1729, sendo destruído quase completamente durante a II Grande Guerra e reconstruído de acordo com o projeto inicial. Do outro lado da rua, vemos fileiras de casas coloridas com toldos verdes que abrigam restaurantes e bares de público mais seleto, ao centro, uma grande árvore e um pequeno chafariz, ao fundo, a imponente Arena, um dos símbolos da cidade e herança dos nossos ancestrais romanos e, à direita, o edifício do Município de Verona e o Palazzo della Gran Guardia, construído no início de 1610 e concluído na metade do século XVIII.


I Portoni della Bra, porta de ingresso para o centro histórico de Verona

Palazzo della Gran Guardia

Saindo da Piazza Bra e seguindo pela Via Mazzini, um corredor a céu aberto de lojas e local de shopping, chegaremos à Piazza delle Erbe, a mais antiga praça de Verona e que durante muito tempo foi o centro da vida econômica e mercantil da cidade. Em meados do século I a.C., havia no local um fórum romano que se extendia para além do perímetro atual da praça. Hoje podemos ver alguns restos nas proximidades, graças às escavações arqueológicas nos anos 70. Ao fundo da praça, vemos o Palazzo Maffei, com sua fachada barroca representada por seis divindades gregas (Hércules, Júpiter, Vênus, Mercúrio, Apolo e Minerva), e a Torre del Gardello, também chamada "torre das horas", por causa do primeiro relógio urbano de sinos que havia no local. Também são elementos da praça o Leão de São Marcos, símbolo da Verona veneziana, o chafariz e a estátua Madonna Verona e a Tribuna.


Piazza delle Erbe vista do alto da Torre dei Lamberti

La Tribuna servindo de Presépio durante a época de Natal

Nas adjacências está a Piazza dei Signori ou Piazza Dante, como é conhecida por causa da estátua do célebre poeta italiano, Dante Alighieri. Foi palco do poder político da cidade, primeiro representado pela família Della Scala (signoria scaligera), dinastia que governou Verona por 125 anos, e, mais tarde, pela República de Veneza. Um aspecto que distingue as duas praças é a arquitetura: enquanto a Piazza delle Erbe é alegremente animada e mais vasta, a Piazza dei Signori se apresenta mais aristocrática e austera, fechada por seus elegantes palácios. Além da estátua de Dante, podemos ver, da direita para a esquerda, o Palazzo del Comune (antiga sede do Município) e a Torre dei Lamberti, o Palazzo di Cansignorio (que um tempo foi sede do poder político local nas épocas scaligera e veneziana), o Palazzo Podestà (Palácio do Governo, antiga residência dos Scaligeri e atual sede da Administração Provincial), a Loggia del Consiglio (a junta de órgãos do governo da época) e a fachada da Domus Nova (século XVII).


Piazza dei Signori


Estátua do poeta Dante Alighieri na Piazza dei Signori

Torre dei Lamberti

Da Piazza dei Signori, atravessando o Arco da Tortura, nos deparamos com as Arche Scaligere, sarcófagos dedicados à família scaligera e que constituem uma das mais importantes expressões da arte gótica em todo o norte italiano. Ao lado dos sarcófagos, tem-se a Igreja de Santa Maria Antica.

Um dos sarcófagos da família scaligera (Cansignorio)