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quinta-feira, 31 de março de 2011

A história da Itália por um italiano

Há algums dias, visitando os blogs da minha lista, deparei-me com um texto muito interessante sobre a história da Itália e, mais especificamente, sobre a sua Unificação. Quem o escreveu foi um italiano chamado Franco, que atualmente mora no Brasil e escreve o blog Brasil-Itália: Dois Corações e Uma História

Pedi para ele se podia traduzir o texto para o português e ele me autorizou. Quem quiser conferir o texto original, o link é 150 anni dell'Unità d'Italia. Todo o conteúdo que reporto abaixo é uma tradução simples e não profissional, sem quaisquer interventos ou comentário da minha parte.


Os 150 anos da Unificação Italiana 
(por Franco, 17/03/2011)

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Hoje na Itália é feriado nacional para a comemoração dos 150 anos da Unificação Italiana. É muito pouco, se pensarmos bem, considerando também a história milenar deste país. Logo, são somente 150 anos que a Itália está unida em uma única nação. Mas então, como era antes? Vejamos o que diz a História.
Há muito anos, ainda antes do nascimento de Cristo, a Itália era formada por um grande número de povos diversos. Foi no ano 6 a.C. que um certo Caio Júlio César Otaviano Augusto, mais conhecido por Otaviano ou Augusto, primeiro imperador romano, conseguiu submeter todas as 46 populações da península italiana, unificando-as definitivamente sob o domínio de Roma. E treze anos mais tarde, no ano 7 d.C., dividiu a Itália em onze regiões, mais ou menos como as conhecemos hoje.
Tudo isso durou alguns séculos, quando, em 535, houve uma guerra que se estendeu por 18 anos, alimentada pelo desejo de conquista e de expansão do Império Bizantino. Mas o que aconteceu com o Império Romano? Durante todo este tempo, a Itália sofreu inumeráveis invasões bárbaras das tribos da Europa do Norte, levando ao fim o Império Romano do Ocidente. Como podem ver, desde o alvorecer de sua História, a Itália sempre foi invadida por povos estrangeiros e vivenciou incansáveis guerras e destruições. Talvez é por isso que ainda hoje, após milhares de anos, que nós italianos somos ainda malvistos pelos estrangeiros. Mas continuemos com a história.
Só para variar, em 568, os longobardos, outra tribo do norte europeu, invadiram a Itália e se estabeleceram por dois séculos aproximadamente. Inicialmente, pretendiam ficar separados dos povos italianos, mas com o tempo acabaram por se misturar sempre mais com os latinos e tentaram, tendo como exemplo os romanos e ostrogodos, reunificar a península para dar base a um novo reino. A um certo ponto, em meados do século VIII, os nossos “primos” franceses tiveram a bela ideia de ter também um império e, graças a Carlos Magno, em 774 conquistaram parte do reino dos longobardos (resumindo, tomaram metade da Itália, o Norte e o Centro). Então, como podem ver, houve outra guerra, outra invasão e um outro povo para comandar a Itália, ainda por cima, um povo parecido e próximos a nós... e depois alguém se espanta quando dizemos que os franceses não nos são muito simpáticos!
Nos primeiros séculos depos do ano mil, o desejo de autonomia e liberdade levou a um significativo crescimento das Repúblicas Marítimas (Amalfi, Gênova, Pisa e Veneza) e, mais tarde, das Comunas, favorecendo o renascimento da economia e das artes que levará ao Renascimento. Mas vejamos um pouco em detalhe. É justamente nesse período que se desenvolve na Europa um sistema político conhecido pelo nome de Feudalismo, com a  contrução de colônias fortificadas e cercadas por muros, onde se encontrava a morada do Senhor Feudal (o castelo), os armazéns com produtos alimentares, ferramentas de trabalho e armas, as casas dos funcionários e, ao redor, diversas unidades coloniais e produtivas. As pessoas que rodeavam o castelo possuiam relações de dependência bem precisas com o Senhor Feudal. Está aí a razão de tantos castelos, fortalezas e muralhas que vemos hoje viajando pela Itália. Mas como nem todos gostavam de se submeter a um Senhor, nasceram então as Comunas.
Mas não serviu para grande coisa, porque em meados do século XIII a Itália viu nascer uma outra forma de governo, a Signoria, em que os chefes das famílias mais importantes se tornaram “Senhores” de tais Comunas, aos quais lhe era atribuído o título de  “Duque”. Enfim, as Senhorias evoluíram-se em Principados com dinastias hereditárias. Resumindo, o filho do Duque de Mântua, por exemplo, tornava-se Duque ou Senhor com a morte do pai. Isso aconteceu quando os Senhores, reconhecendo o imperador (francês ou alemão) e pagando uma quantia em dinheiro, foram legitimados e reconhecidos como autoridade pelos súditos e príncipes. Tal mudança foi possível graças à incapacidade dos soberanos alemães de manter a ordem no norte da Itália e da facilidade que os Senhores encontravam para ser reconhecidos como autoridade legítima. Entre as Senhorias mais importantes podemos citar os De Medici, os Sforza, os Visconti e os d’Este. Todas elas contribuiram intensamente na cultura e na arte italiana, mas nem é preciso dizer que elas lutavam entre si.
Foi exatamente neste periodo que surgiu o Renascimento, um período artístico e cultural da história europeia que se desenvolveu em Florença entre o final da Idade Média e início da Idade Moderna, em um arco de tempo que vai de meados do século XIV até o século XVI, com diferenças disciplinares e territoriais. Graças a tais literatos e intelectuais, entre os quais se destacam as figuras universais de Dante, Petrarca e Boccaccio, que proporcionaram intercâmbios culturais sem levar em conta os confins regionais e locais, a língua italiana douta teve um rápido desenvolvimento, evoluindo-se e difundindo-se nos séculos seguintes até mesmo nas mais difíceis intempéries políticas, mesmo que permanecendo por muitos séculos a língua veicular exclusiva das classes mais cultas e dominantes, sendo progressivamente e indistintamente adotada como língua escrita em cada região italófona, sem considerar a nacionalidade dos seus princípios.
Até aqui a Itália sempre foi invadida, repartida, dividida e comandada por povos estrangeiros, sem deixar de lembrar que bem no coração da nação o Estado Pontifício fazia guerras e procurava ampliar seus próprios domínios. Foi aproximadamente no final do século XVIII, com a chegada das tropas napoleônicas na península, que começou a difundir cada vez mais entre a população um sentimento de nacionalismo italiano. De consequência, houve guerras para a libertação do poder francês, mais guerras para combater o Império Austríaco, outras contro os Bourbons, etc. Eis que então nasce a Carbonária e personagens como Silvio Pellico, Giuseppe Mazzini e Camillo Benso, conde de Cavour. Foi justamente Mazzini que, em 1831, fundou a Jovem Itália, um movimento cujo objetivo era transformar a Itália em uma república democrática unitária, segundo os princípios de liberdade, independência e unidade. Obviamente, nem tudo foi fácil e somente depois de anos de batalhas, e graças também a homens como Giuseppe Garibaldi, que no dia 17 de março de 1861 o parlamento subalpino proclamou Vittorio Emanuele II não rei dos italianos, mas “rei da Itália, por vontade de  Deus e da nação”.
Bom, a Itália até aqui estava unida em uma só Nação, mas não pensem que já acabou, porque houve ainda muitos problemas graves que o novo Estado teve que enfrentar. Essa nova Itália tinha reunido povos diversos pela história, pela língua falada, pelas tradições culturais e até religiosas. Não foi uma empresa fácil, visto que ainda hoje esta união não é assim tão forte como parece.
É exatamente este o ponto: a Itália certamente é uma nação unida e cada pessoa, nascida ou criada na Itália, sente-se um italiano. Mas todas estas guerras, todas estas invasões ocorridas durante séculos, para não dizer milênios, todas estas divisões entre Províncias, Senhorias, Ducados, Comunas e outras tantas, criaram uma espécie de “independência” local que nenhum outro Estado possui. Por toda nossa existência como Nação, tivemos invasões não só de povos vindos de terras longíquas, como a Mongólia ou a Dinamarca, mas tanbem de países de fronteiras como a França ou a Áustria, que nos declararam guerra e procuraram nos dominar. É justo, porém, dizer que todas estas invações, todos estes povos que se instauraram na Itália durante séculos, deixaram uma marca evidente na cultura e na vida dos italianos, visíveis na arquitetura, nos hábitos, na culinária, que fazem da Itália um país único no mundo. Além disso, também nesta mesma Itália, os vários reinos existente guerreavam entre si, antes de todos o Estado Eclesiástico. Consequentemente, para todos nós, qualquer habitante de um outro país, como também de outra cidade, era tido como inimigo. Ou pelo menos era visto com desconfiança, posto que podia ser qualquer um que queria roubar os nossos territórios e nos comandar.
Daí a razão de ainda hoje, em 2011, um milanês não simpatizar muito com um napolitano (é só um exemplo). E é sempre por este motivo que temos muito ciúme das nossas tradições. A “globalizzação” não foi feita para nós. Eis porque, ainda hoje, um italiano não se sente “italiano”, mas romano, milanês, toscano e por aí vai. Esta “geolocalização” de uma Região ou de uma cidade específica, e não de uma Nação, é fruto do nosso passado e de tudo aquilo que tivemos que passar. Como notou Allan no seu blog, é mais fácil que um italiano se sinta europeu que italiano. Nós, italiano, sentimo-nos unidos em uma única Nação somente quando estamos no exterior ou quando joga a Seleção Italiana. Mas isto conhecemos bem, portanto é inútil nos criticar por este nosso defeito, porque faz parte das nossas raízes e do nosso ser. Se quiserem um povo mais aberto, mais “global”, melhor desistirem dos italianos, porque sabemos fazer tantas coisas, mas não conseguimos ser diferentes.

De qualquer forma, parabéns pelos 150 anos da Unificação Italiana. Viva a Itália!

terça-feira, 29 de março de 2011

Horário de verão no Hemisfério Norte


No último domingo, dia 27/03, a Europa toda e parte da América e África do norte adiantaram em uma hora seus relógios, entrando no Horário de Verão, medida que muitos países adotaram para aproveitar mais a luz solar e obter, com isso, uma significativa economia energética.  Na Itália, a Ora legale (como é chamada aqui) tem início às 2:00 (e não à 0:00 como no Brasil) do último domingo de março e termina às 2:00 também  do último domingo de outubro, quando recomeça a Ora solare (o horário normal). Essa longa duração de sete meses de Horário de Verão é um padrão usado em toda a Europa a partir de 1996.

Sempre tive uma certa dificuldade de me adpatar ao novo horário. Era estranho, no Brasil, acordar quando ainda estava escuro lá fora (aqui na Itália, antes mesmo do Horário de Verão, o sol já está bem altinho às 6:00) ou ter sono já às 21:00 quando, na verdade, ainda são 20:00 no nosso horário biológico. A impressão que se tem é que estamos adiantados demais, o que em parte é verdade, já que agora estamos 5 horas à frente do Brasil (segundo o Horário de Brasília).

segunda-feira, 28 de março de 2011

Pesquisa sobre a imigração brasileira na Itália

Muito se tem falado da imigração italiana no Brasil e no mundo. Há uma infinidade de pesquisas e estudos relacionados ao tema e que envolve também aspectos culturais, linguísticos e até gastronômicos. Hoje, porém, a situação se inverteu. De país da imigração, passamos a ser os emigrantes que tentam a vida em outros países espalhados pelo mundo. 

Com base nesse quadro, começam a surgir os primeiros estudos sobre o fenômeno emigratório brasileiro. Como é o caso do jornalista e pesquisador Rodrigo Zanetti, que está desenvolvendo um estudo justamente sobre a imigração brasileira na Itália e precisa de voluntários. O tema principal da pesquisa dele é sobre a forma de comunicação dos brasileiros na Itália e como a internet influencia na manutenção dos laços afetivos com parentes e amigos que ficaram no Brasil.

Para participar, é só responder a um breve e simples questionário online disponível aqui (clique sobre a palavra "aqui" para o acesso ao link com as perguntas - a maioria é de múltipla escolha). Lembrando que só poderão participar os brasileiros que residem na Itália e que todos os dados reportados no questionário serão mantidos sob sigilo. 

Para mais informações, contate o Rodrigo: rodzanetti@gmail.com.

Gostei da iniciativa e espero que cresçam mais ainda pesquisas como esta para que a futura geração de brasileiros no exterior possa conhecer e entender melhor a história de seus antepassados fora do país de origem.

150° aniversário da Unificação Italiana

Logotipo oficial das celebrações dos 150 anos da Unificação Italiana

Dia 17 de março foi um dia especial para a Itália, que comemorou seus 150 anos de unificação. Desde o início do ano tem-se falado muito desta festa e, exclusivamente este anoem 2011, foi instituído feriado nacional para a ocasião. Em diversas cidades italianas houve manifestações comemorativas, principalmente em Turim, Roma, Florença e Nápoles, casas e edifícios públicos enfeitados com as cores da bandeira italiana (até eu entrei na onda e coloquei minha bandeirinha da Itália na janela) e museus com entrada franca durante todo o dia.


Como tudo começou

Do dia 22 de setembro de 1814 ao dia 10 de junho de 1815 as grandes potências europeias (Áustria, Grã-Bretanha, França, Rússia e Prússia) participaram do famoso Congresso de Viena. Nessa reunião, cujos princípios conservadores reconheciam as reivindicações das dinastias reais que tendiam neutralizar as crescentes forças revolucionárias e liberais da Europa, foi proposta a reconstrução dos estados que já existiam antes da Revolução Francesa e do domínio napoleônico.

O Congresso de Viena por Jean-Baptiste Isabey, 1819

A Itália foi subdividida em vários reinos: o da Sardenha, com a anexação da Ligúria, foi restituído a Vittorio Emanuele II di Savoia; o Lombardo-Vêneto passou a ser uma província do Império Austríaco; os ducados de Parma, Piacenza, Modena, Reggio e o Grão-ducado da Toscana passaram sob o domínio de dinastias que haviam relações de parentesco com a Casa de Habsburgo; os reinos de Nápoles e da Sicília passaram a Fernando I de Bourbon, rei das Duas Sicílias; e, finalmente, o Reino Pontifício foi devolvido ao papa Pio VII.


Essa restauração, caracteristicamente opressiva, acabou por suscitar a reação de um forte espírito patriótico. Surgem assim as sociedades secretas a favor da queda da dominação estrangeira e da instauração de um regime democrático, como a Carbonária (Carboneria) e a Jovem Itália (Giovine Italia), esta última fundada por Giuseppe Mazzini a fim de criar uma Itália livre, independente e republicana.

Giuseppe Mazzini, um dos grandes ativistas da unificação italiana


Primeira guerra de independência

Do dia 18 ao dia 22 de março de 1848, os milaneses se rebelaram contra os austríacos em uma batalha conhecida por Cinque Giornate di Milano (Cinco Dias de Milão), obrigando o general Radetzky a abandonar a cidade. No dia 23 de março, o rei da Sardenha, Carlo Alberto, anunciou a intervenção militar do Piemonte no Lombardo-Vêneto, declaranado guerra à Áustria. No ano seguinte, o exército austríaco retorna em Milão após vencer os piemonteses.

As Cinque Giornate di Milano representada em um jornal da época


Um pedido de ajuda que levou à segunda guerra de independência

Camillo Benso, Conde de Cavour, estadista e diplomático piemontês, era convicto de que a aliança com a França pudesse favorecer o Piemonte a derrotar a resistência austríaca no território italiano. Sendo assim, em ocasião do Congresso de Paris de 1856, Cavour sensibilizou as potências europeias da época sobre o problema que a Itália enfrentava para a unificação e pediu o apoio de Napoleão III da França.

Camillo Benso, conde de Cavour

Em 1858, no Congresso de Plombières, Cavour e Vittorio Emanuele II, rei do Piemonte, aliaram-se à França, derrotando, no ano sucessivo, o exército austríaco nas batalhas de Magenta e Solferino. A Lombardia, então, passava a integrar o Reino da Sardenha, enquanto o Vêneto permanecia sob o Império Austríaco.

Tudo parecia estar resolvido se não fosse, por medo que a Itália se unisse, o acordo inesperado entre Napoleão III e Franz Joseph I da Áustria em Villafranca, no dia 11 de julho de 1859.


A Empresa dos Mil (L'impresa dei Mille)

A Itália estava em polvorosa do norte ao sul. Depois das revoltas no norte contra os austríacos, era a vez dos sicilianos se rebelarem contra o domínio dos Bourbons. Para ajudar esses revolucionários, Giuseppe Garibaldi organizou um exército de mil voluntários e embarcou para a Sicília. Após derrotar o exército borbônico, Garibaldi e os Mil seguiram para Nápoles, a capital do reino, colocando fim ao domínio dos Bourbons.

Garibaldi embarca em Quarto (Gênova, norte da Itália) rumo à Sicília (sul da Itália)

Depois desse grande sucesso, Garibaldi tinha a intenção de ir a Roma e liberar o reino Pontifício, mas Vittorio Emanuele II, que protegia o papa, alcançou-o em Teano (na província de Caserta, região da Campania) e o convenceu a desistir do tal plano.


Nasce o reino italiano

No dia 17 de março de 1861 foi proclamado em Turim o Reino de Itália, após plebiscitos locais para a anexação dos vários reinos conquistados até então. Três anos mais tarde foi assinado um acordo entre França e Itália, no qual fora estabelecido que os italianos se comprometiam a não assaltar  o Estado Eclesiástico (que estava sob o domínio resistente do papa).

Em 1866 a Itália, aliada à Prússia, apresentou uma declaração de guerra à Áustria a fim de conquistar o Vêneto, o Trentino e Veneza Julia. A Áustria foi derrotada e a Itália obteve somente Veneza e o Vêneto Ocidental.

O Risorgimento conclui-se idealmente no dia 20 de setembro de 1870, quando um exército de artilheiro, liderados pelo general Raffaele Cadorna, assalta Roma através da Brecha de Porta Pia (uma grande fenda de 30 metros formada por tiros de canhões) e combate a resistência francesa. No dia 2 de outubro do mesmo ano, com um plebiscito, finalmente o Estado Pontifício é anexado ao Reino da Itália.



Fonte:

L'Italia in lungo e in largo (De Agostini)


Para saber mais: 

sábado, 19 de março de 2011

Dia de São José e dos pais na Itália

São José com o Menino Jesus (Guido Reni, 1635)

No dia 19 de março comemora-se o dia de São José, o santo carpinteiro que é o pai putativo de Jesus Cristo. Nada mais justo para que este dia fosse escolhido para homenagear os pais aqui na Itália (e também em Portugal, Espanha, Suíça italiana, Bolívia, Honduras, Andorra e Liechtenstein).

Aproveito para mandar um abraço especial a todos os papais (biológicos e adotivos) que acompanham as notícias deste blog e um especial ao meu pai que está lá no Brasil e vai só comemorar seu dia no segundo domingo de agosto. 

Parabéns também a todos os Josés e Giuseppi pelo dia do onomástico (aqui na Itália é muito comum parabenizar as pessoas que possuem o mesmo nome do santo do dia).

quarta-feira, 16 de março de 2011

Carnaval em Veneza 2011


Sei que estou atrasada (sou adepta do velho ditado "antes tarde do que nunca") e espero que os católicos mais conservadores não me excomunguem por publicar um texto sobre o Carnaval em plena Quaresma.  

Brincadeiras à parte, este ano finalmente fui a Veneza participar da festa mais famosa do mundo. Fui no último sábado de Carnaval (aqui começam os festejos uma semana antes do Carnaval brasileiro) e o sol ajudou a animar a festa e a atrair turistas. Nunca tinha visto Veneza tão cheia, nem mesmo no verão a cidade fica tão insuportavelmente lotada a ponto de dificultar nossa caminhada.


Quando a gente fala Carnaval, é inevitável que um brasileiro não associe ao que comemoramos lá. E aí pensamos em samba, desfiles, gente na rua se divertindo, sejam elas crianças ou adultos, e 4 dias de festas ininterruptas, com direito a um feriado prolongado. Aí a gente vem para cá e se decepciona porque, além do frio (que é muito estranho, até mais que no Natal, pois já estamos mais que acostumados à imagem do Papai Noel e da neve que vemos nos filmes made in USA), não tem samba, nem marchinha e nem feriado prolongado. Voltando a Veneza, até que achei animadinho o Carnaval de lá, talvez por já ter me acostumado a não festejar mais o do Brasil ou porque tinha muita gente fantasiada ou mascarada.

O Carnaval de Veneza já foi bem mais animado e até parecido com o nosso. Segundo a enciclopédia mais popular da web, as primeiras manifestações carnavalescas remontam ao ano de 1094 e surgiram como uma necessidade de conceder à classe mais pobre da população um breve período de festas e divertimento, um pouco à maneira da política do "pão e circo" da Antiga Roma. Conta-se que o Carnaval durava cerca de seis semanas, desde o dia 26 de dezembro até a terça-feira. Tudo era liberado e os excessos eram tantos que o governo teve que intervir com regras e proibições severas a fim de impor a ordem. Até as prostitutas tiveram que entrar na linha para evitar a propagação de doenças sexualmente trasmissíveis, como a sífilis. Além da festa nas ruas, havia também os elegantes (e libertinos) bailes nos palácios da alta classe veneziana. 

Durante vários séculos Veneza foi a terra do Carnaval, até chegar Napoleão Bonaparte e, literalmente, acabar com a festa, em 1797. Somente em 1979 tornou-se uma festividade oficial, graças ao apoio do Comune di Venezia (Prefeitura), do teatro La Fenice, da Bienal de Veneza e dos entes turísticos locais, incentivos importantes para o resgate de uma cultura secular e característica da cidade.

Selecionei algumas fotos do Carnaval 2011 que publico a seguir:

Até eu e meu namorado entramos na onda dos mascarados



Tinha muita família fantasiada com o mesmo tema

Homenagem a Veneza

As famosas máscaras do Carnaval veneziano: à esquerda, de branco, a Larva e, à direita, a Médico da Peste (uma ideia do médico francês Charles de Lorme para proteger os colegas de profissao das epidemias. O bico da máscara era um recipiente que servia para alojar o filtro composto de sais e ervas aromáticas: alecrim, alho e zimbro)

Crianças fantasiadas e fantasias inusitadas, como o homem caracol e o menino Disaronno (um licor italiano). Também não podia falta o sumo poeta italiano, Dante Alighieri (no alto à direita)

Máscaras e fantasias de personagens famosos

Não podiam faltar as fantasias mais descontraída, como o papa com a cervejinha na mão, o mexicano bigodudo e a Alice um tanto masculina cacompanhada do Chapeleiro Maluco e da guarda da Rainha de Copas

Até o príncipe William da Inglaterra estava lá, trabalhando como garçon =0)

terça-feira, 15 de março de 2011

Um agradecimento especial


Hoje de manhã, quando fui conferir as notícias no painel do Blogger, fiquei muito feliz com o número de seguidores que consegui ao longo de pouco mais de 2 anos de existência do blog La Nostra Italia. 100 seguidores é pouco, mas para mim significa muito, já que quando o criei, nem esperava que atingisse a quota 50.

Já disse em outras ocasiões e repito: agradeço muito a vista de vocês, a paciência pelos minutos roubados a ler ou ver as fotos que publico e os comentários, que são sempre bem-vindos. É por vocês que continuo a escrever e manter, embora com pouca periodicidade, o blog sobre um país cheio de encantos e belezas (confesso que já desisti várias vezes de escrever e até pensei em fechar ou excluir o blog).

Que venham mais 100 seguidores!

Um caloroso abraço


quinta-feira, 10 de março de 2011

O Carnaval na Itália

Carnaval em Roma, Johannes Lingelbach


Ontem acabou, em parte, uma das festas mais populares e antigas do mundo, o Carnaval. Sempre gostei da época do Carnaval: na escola fazíamos nossas máscaras coloridas com tanta purpurina, minha mãe e minhas avós faziam fantasias para a criançada, as ruas ficavam todas decoradas para a ocasião ou cheias de confetes e serpetinas. Adorava me fantasiar e todo ano tinha uma fantasia diferente (do palhaço ao índio) para desfilar pelas ruas da cidade onde passava o Carnaval (no sul do estado de Minas Gerais) ou brincar na matinê. A única coisa que não consigo gostar é aquela apelação à nudez, cada vez mais exagerada. Podem até me chamar de feminista barata, mas não vejo um motivo para colocarem várias mulheres semi-nuas rebolando e mostrando tudo. 

Colombina e Arlequim

Esta festa que tanto agrada os pequenos (e também muita gente grande) não é uma manifestação diabólica e do mal, como muitos dizem por aí. O Carnaval, de tradição católico-cristã, tem suas origens lá no Antigo Egito e na Mesopotâmia, passando pela Antiguidade Clássica, com as festas dionisíacas (Grécia) e a saturnália (Roma). Todas elas tinham um mesmo ponto em comum, ou seja, a temporânea dissipação das obrigações sociais quotidianas e das hierarquias para dar lugar à desordem e às brincadeiras, etapas necessárias ao renovamento do ciclo da vida. As máscaras e fantasias, elementos característicos do Carnaval já usados séculos atrás, não serviam para esconder a própria identidade, mas remeter a uma outra. Dizem até que era uma forma que os mortos encontravam para encarnar nos vivos durante as mudanças cíclicas para a chegada da primavera (é, eu sei, uma viagem total). 

Mas como é o Carnaval na Itália? Além do famoso e tradicional Carnaval de Veneza, com todo aquele desfile de máscaras e suntuosidade, há também outras manifestações tão famosas quanto espalhadas pela península. Entre eles estão o Carnaval de Viareggio, na região da Toscana, um dos mais importantes da Itália e da Europa, o de Fano, na região de Marche, o de Cento, na Emilia Romagna, que até já desfilou no Rio de Janeiro com as escolas campeãs do grupo especial, o de Putignano e Massafra, na Puglia, todos eles marcados por muita alegria e desfiles de carros alegóricos. O Carnaval de Ivrea, na região do Piemonte, tem como tema a Idade Média e, consequentemente, as fantasias e os jogos evocam tal período. A atração mais famosa e símbolo desse carnaval é a Battaglia delle Arance (Batalha das Laranjas) - tem até grupos destinados a atirar laranjas nos carros alegóricos. Todos esses carnavais têm um só fim: divertir o povo.

Carnaval de Viareggio (foto: albino.lemarmotte.it)

Saindo um pouco dos lugares onde o carnaval é tradicional, o que eu notei é que, em muitas cidades, parece ser uma festa mais para crianças. Os municípios organizam os desfiles e os pais levam seus filhos fantasiados para seguir os carros, sendo que muitas vezes nem tem música. Mas mesmo assim as crianças se divertem jogando confetes e serpentinas nas ruas ou colorindo carros e muros com um tipo de serpentina em spray (que não tem nada a ver com aquela espuminha abominável do nosso carnaval). O Carnaval aqui não é feriado, nem mesmo na terça-feira, e por isso muitas festas e desfiles são feitos no final de semana anterior e no do próprio Carnaval. Um brasileiro que vem para cá, acaba estranhando no início a falta de animação ou dos dias de folga. Sempre digo que se aqui fosse verão nesta época, talvez os italianos ficariam mais entusiasmados e a festa deixaria de ser apenas das crianças. 

Carnaval na Itália também é sinônimo de doces. É muito comum encontrarmos nos supermercados e confeitarias uma infinidade de doces carnavalescos, como as famosas chiacchiere, bugie, fritelle, zeppola, doces de chocolate, de castanhas, de ricota... uma delícia para nossos olhos e paladar. Geralmente são doces feitos com massas finas, fritos e cobertos de açúcar de confeiteiro e são tradicionalíssimos em todo o país, variando de região para região (veja aqui a história dos doces carnavalescos em italiano). 

Chiacchiere, um dos tradicionais doces carnavalescos na Itália

Nos meus primeiros meses em território italiano, achei curioso o Carnaval em Milão e nos municípios próximos ser no sábado da Quaresma. É que na maior parte da arquidiocese de Milão segue-se o rito ambrosiano, relativo ao santo padroeiro da cidade, Santo Ambrósio. Diz a tradição que o santo, na época bispo de Milão, tardou a voltar de uma peregrinação, marcada para o fim do Carnaval. Seus fiéis esperaram a volta dele para o início das celebrações da Quaresma, o que fez com que esta fosse adiada para o primeiro domingo após o Carnaval e não na Quarta-Feira de Cinzas (como no rito romano). 

(Depois escrevo e publico as fotos do Carnaval de Veneza 2011!)