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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Il Capodanno

Capodanno, em italiano, significa início do ano e é uma festa muito comemorada aqui na Itália

É muito comum festejar a chegada do Ano Novo em casa com amigos e parentes. E não é difícil imaginar os deliciosos e variados pratos presentes à mesa de uma família italiana. Mas o que não pode faltar na ceia de San Silvestro (São Silvestre) é um belo prato de lentilhas acompanhadas de cotechino (salame suíno cozido) e zampone (pé de porco), que é para dar muito dinheiro no ano que se aproxima. Outra iguaria muito comum são os pratos a base de peixe. Como brinde, nada melhor que o champanhe, ou spumante, como eles preferem chamar.

Depois da ceia ou à espera da diversão na rua ou nas discotecas, é tradição made in Italy jogar a famosa tombola (bingo), acompanhada de muita gritaria e risadas. Cartas e outros jogos de mesa também são bem vindos, desde que esteja presente o espírito da diversão. 

Aqui não é tradição vestir-se de branco, mas nem por isso os italianos deixam a superstição de lado no Réveillon. O traje obrigatório entre os supersticiosos aqui é usar pelo menos uma peça de roupa íntima de cor vermelha. Beijar o amado ou amada debaixo da planta de visco ou ao som dos sinos da meia-noite (melhor ainda em Veneza) também entra na lista dos mais românticos.

À meia-noite, depois da contagem regressiva para a chegada do novo ano, é um festival de abraços e beijos, fogos, quebra-quebra de garrafas e taças e o clássico trenzinho ao som do refrão da música Taj Mahal, de Jorge Ben Jor (que aqui eles cantam "pe pe pe re re pe").




Um agradecimento especial a todos os seguidores e amigos que me perderam alguns de seus preciosos minutos lendo e comentando meus textos neste ano. Que 2012 seja um ano de muitas felicidades, saúde e grandes conquistas para todos nós!

Feliz Ano Novo!


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

As tradições natalícias na Itália

Quando dezembro chega aqui na Itália, as cidades parecem ganhar um toque especial. São as tradições natalícias, que ainda são muito presentes na vida dos italianos. E quais são elas?

O presépio é, por excelência, o mais característico de todos. É uma tradição que surgiu lá na época de São Francisco de Assis e que ainda hoje é presente em todo o mundo cristão. Na Itália, a tradição do presépio ganhou forma a partir dos séculos XVII e XVIII, principalmente em Roma, Nápoles, Gênova e Sicília. Hoje encontramos presépios de todos os tipos e gostos, do clássico napolitano, que inclui também as celebridades do mundo da mídia, ao presépio vivo, de luz ou produzido com materiais recicláveis.

Outra protagonista do Natal italiano e do mundo ocidental é a árvore de Natal, presente nas ruas, no comércio, nas empresas, nas escolas e nas casas, cada qual enfeitada de várias maneiras e gostos: naturais, criativas, coloridas, o que vale é a imaginação. Cada lenda conta a sua versão sobre a origem dela; algumas dizem que, no culto pré-cristão, era símbolo de vida longa. O hábito de colocá-la em casa surgiu na Alemanha (e eu que sempre pensei que fosse dos EUA) e somente no final do século XIX é que entrou nas casas italianas, depois que a esposa do rei Umberto I decidiu enfeitar uma no Quirinale (atualmente, o palácio do presidente da República). Tradicionalmente, a árvore de Natal e o presépio são montados no dia da Imaculada Conceição (8 de dezembro) e desmontados no dia 6 de janeiro (dia da Epifania).

Santa Lucia (Santa Luzia), Babbo Natale (Papai Noel) e a Befana são personagens muito presentes na imaginação das crianças por aqui. A primeira é uma espécie de Mamãe Natal aqui no norte da Itália, já que também responde às cartinhas levando os mais sonhados pedidos dos pequenos. O Papai Noel é "importado" da Europa do Norte e surgiu a partir de um personagem histórico, o bispo São Nicolau de Mira (Turquia). Sua figura ganhou diversas versões em várias partes do mundo, até se transformar, a partir do século XIX, no bom velhinho vestido de vermelho que entrega presentes para as crianças em um trenó puxado por renas. Já a Befana, é uma velhinha que deixa doces ou carvão nas meias das crianças italianas na noite do dia 6 de janeiro.

Não é Natal na Itália se não há os famosos mercadinhos natalícios. Cada cidade organiza nas praças principais barraquinhas coloridas onde os artesãos podem vender seus mais variados produtos: roupas, artigos de decoração e pratos típicos. É uma tradição da Alemanha e Áustria que também ganhou força em toda a Itália e hoje atrai muitos turistas.


Mercadinhos de Natal em Merano, Itália (foto de www.vacanze-viaggi.myblog.it)


Além do pinheiro e abeto, outras plantas também participam da decoração natalícia. A mais famosa é a flor de bico-de-papagaio, uma planta originária do México e que em Portugal e na Itália são conhecidas pelo nome de estrela-do-natal ou Stella di Natale (no Brasil ela floresce em junho, quando é inverno).  O azevinho e o visco também são usados na decoração de guirlandas, penduradas nas portas das casas. 


Bico-de-papagaio ou estrela-do-natal (imagem do Google) 

Azevinhos de Natal (imagem do Google)

Planta de visco, muito usada na fabricação de guirlandas de Natal (imagem do Google)

Nas prateleiras dos supermercados encontramos diversos tipos e gostos dos típicos doces de Natal: o panetone e o pandoro. O primeiro, muito conhecido mundo afora, é de origem milanesa e tradicionalmente decorado com frutas secas (este ano vi um feito inteiramente de chocolate). Já o segundo nasceu nas confeitarias de Verona e compete com o panetone em sabor, frangrância e beleza. 

Durante o período de Natal, é muito comum encontrar os zampognari, músicos populares vestidos como camponeses que tocam a zampogna (um instrumento de sopro) ou a cornamusa (gaita de fole), percorrendo as ruas de diversas cidades italianas. São originários da região de Abruzzo, mas logo se espalharam pela Itália, principalmente no centro-sul. Durante os séculos XVII e XVIII, eram os únicos que tinham direito de tocar nos dias de festa.


Zampognari em seus trajes típicos (imagem de www.pugliafedefolklore.it)


A Missa do Galo aqui é chamada de Messa di Mezzanotte e a mais famosa delas é a rezada pelo papa na Basílica de São Pedro, no Vaticano. 

A Ceia de Natal (cena della Vigilia) não é muito tradicional aqui na Itália e pede pratos à base de peixes. Já o almoço de Natal reúne amigos e parentes em torno da mesa, onde são servidas as mais variadas delícias da culinária italiana. Não há um padrão de prato a servir, já que cada lugar da Itália propõe seus pratos típicos. Só não pode faltar, tanto no Natal como no Ano Novo, lentilha com cotechino (um tipo de salame cozido) ou o zampone (pé de porco). 

A troca de presentes é feita na véspera (aos que escolheram se reunir nesse dia) ou durante o almoço. Já as crianças recebem seus presentes, encontrados debaixo da árvore, durante a manhã do dia 25. Não existe o amigo secreto e a tradição de enviar cartões de Natal por correios também anda se perdendo com a popularização da internet.

São essas as mais características tradições do Natal italiano. Aproveito para desejar aos leitores e amigos do blog La Nostra Italia meus sinceros votos de um abençoado Natal e um Ano Novo de grandes conquistas!

Um afetuoso abraço!


(Imagem do Google)






Texto realizado com a ajuda do site Bianco Natale e da Wikipédia


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Há quem diga que a vida na Europa é só glamour...


Muitos brasileiros, até aqueles mais escolarizados ou viajados, acham que os europeus levam uma vida de rico. Quando digo que moro aqui na Itália e que de vez em quando faço algumas viagenzinhas pela Europa, as pessoas já imaginam que eu moro em um apartamento luxuoso no centro da cidade, que ando para cima e para baixo com carros do ano, que só me visto com roupas da alta costura made in Italy e que sou assídua frequentadora dos locais mais badalados das capitais italianas. Quem dera! Também sonho com esta vida, mas a realidade é outra.

Não sou rica, nunca fui. Pelo menos de dinheiro. Meus pais sempre fizeram de tudo para que pudéssemos ter uma vida confortável. Meus irmãos e eu estudamos a vida toda em escolas públicas e, mesmo assim, conseguimos passar e nos formar em uma das melhores universidades públicas da América Latina. Foi com essa dedicação e perseverança que finalmente consegui realizar um sonho dos tempos de faculdade: vir para a Itália estudar. Economizei cada centavo desde quando comecei a trabalhar, sem sequer imaginar que ganharia uma bolsa para cursar um mestrado em uma das mais conceituadas universidades italianas. 

Vim para cá, estudei, casei e nunca levei a vida de regalias do imaginário de muita gente. "Ah, mas você vive viajando!". Como eu havia escrito nos primeiros posts do blog, viajar aqui é muito mais fácil que no Brasil. As distâncias são menores, há mais opções de transporte e a viabilidade das estradas é mais fluente. Sem contar nas promoções que muitas companhias aéreas oferecem. Depois, a maioria das minhas "viagens" é mais "bate-e-volta", só quando tiramos férias é que vamos para mais longe.

Agradeço muito por morarmos em uma casa confortável, com garagem e jardim amplo. Não teríamos tanta sorte assim se morássemos em uma cidade maior como Milão, por exemplo, já que o custo habitacional aqui na Itália é altíssimo. Para um italiano da classe média, ter duas casas é um status symbol. Assim como para um brasileiro da mesma posição social, só que para nós é um sonho menos difícil de se realizar. 

Infelizmente, na região onde moro é impossível viver sem carro porque os transportes públicos seguem o horário das escolas e de pico. Fazer o que, interior é assim mesmo. O carro para nós (no sentido literal da palavra) é mais um bem de utilidade que de consumo. Quem mora em cidades maiores, tem mais sorte e pode contar com os transportes públicos. O uso das bicicletas também é largamente difuso e não há distinção entre rico e pobre, todo mundo usa. 

Em São Paulo, era preciso saber os lugares estratégicos para se comprar roupas e gastar pouco. Aqui, ao contrário, é fácil achar roupas boas e com preços baixos na porta de casa. Seja nas barraquinhas dos chineses (por que não? a qualidade muitas vezes é melhor que a dos italianos e eu nem ligo para grifes ou para as últimas tendências da moda, gosto é de me sentir bem com o que visto) que em lojas e outlets (quando fazem liquidação, melhor ainda). Fica impossível resistir e mais fácil de renovar o guarda-roupa a cada estação sem pesar muito no bolso.

Ter diarista ou faxineira na Itália é artigo de luxo. Só tem quem realmente precisa, geralmente velhinhos sozinhos ou pessoas super ocupadas. Graças ao "estágio" feito em casa, ajudando minha mãe nos afazeres domésticos, estou conseguindo sobreviver sem elas aqui também. Não tenho vergonha de dizer que sou eu mesma quem cuida da casa, pega na vassoura, limpa os banheiros, passa roupa e ainda cozinha, mesmo tendo uma ocupação fora de casa. O marido fica encarregado das reparações, do jardim, da pintura interna e, às vezes, até dos trabalhos mais básicos de pedreiro (o trabalho deles é bem valorizado aqui).

Não tem nada de mais levar marmita no trabalho ou na faculdade, na escola. O almoço feito em casa é visto aqui como hábito saudável e não como pobreza. Também não tem nada de mais sentar e comer seu lanche ou almoço na rua. Ninguém vai olhar para você como se fosse um mendigo. "Farofada" aqui é normal nos parques, lagos e praias porque ninguém està afim de pagar caro e comer mal.

É essa minha vida europeia, normal, sem luxo e nada de tão diferente da que eu levava no Brasil. 

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Feliz Santa Luzia!

O dia de Santa Luzia (Santa Lucia, em italiano) é uma data especial para a maioria das crianças italianas. É como se fosse o dia delas aqui, já que ganham presentes após terem mandado uma cartinha para a santa. 

Santa Luzia montada em seu mais fiel ajudante, o burrinho

A história da santa e das tradições ligadas a ela estão disponíveis aqui.

Feliz Santa Luzia a todas as crianças e a quem ainda guarda um pouco delas dentro de si!



segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

AF - Artigiano in Fiera


Neste último domingo, dia 4 de dezembro, fomos conferir o segundo dia da 16ª edição da feira internacional do artesanato em Milão, a famosa Artigiano in Fiera. O evento acontece no moderno e arrojado espaço de exposições de Milano-Rho, facilmente acessível de metrô ou trem.

A visita foi cansativa, mas valeu a pena. Visitamos 10 pavilhões, todos divididos de acordo com a área geográfica de proveniência dos expositores: Itália, Europa, Ásia, Américas e África. A primeira etapa foi logo a Sicilia e, como já era quase hora do almoço, deliciamo-nos com sanduíches recheados com panelle (frituras feitas com farinha de grão-de-bico) e com os famosos e inigualáveis cannoli (doces feitos com ricota e pistaches). Era o início da nossa comilança: a cada parada nos eram oferecidos vinhos, azeites, pãezinhos com trufas, doces típicos, queijos, patês. Uma barraquinha da região italiana da Campania oferecia aos vistantes muçarelas de leite de búfala à vontade, tudo grátis.

Mapa da feira, dividida por áreas geográficas

Depois foi a vez de visitar os pavilhões da Europa. Passamos pela bela França, pela pitoresca Escócia (com direito a homens barbudos vestidos com o tradicional kilt), ganhamos informativos sobre um spa de um simpático alemão que falava italiano e tivemos o privilégio de conversar e saborear alguns produtos típicos portugueses, como o vinho do Porto (que segundo o expositor, era o segredo da alegria) e os deliciosos Pastéis de Belém. Também fizemos uma etapa no mundo árabe e provamos um chá de hortelã egípcio.

Mas nem tudo são rosas... Pavilhões lotados de gente e cansaço são coisas normais em uma feira, o que não gostamos foi a forma alguns expositores usavam para tirar proveito dos visitantes. A primeira foi a recepcionista dos perfumes para ambiente com propaganda enganosa, a outra foi a russa que oferecia petisquinhos minúsculos de caviar com vodka sem dizer antes que eles custavam 3 euros por pessoa. 

Expositores do Brasil encontramos só dois. Havia só um restaurante-churrascaria brasileiro, mas com uma imensa fila de espera, perdendo só para os restaurantes argentinos. Esperava mais dos meus conterrâneos, visto que a colônia brasileira na Itália, principalmente no norte, é bem numerosa.

Se vocês ficaram com vontade de visitar a feira internacional do artesanato, não percam tempo porque ela já termina no dia 11 de dezembro. O ingresso é gratuito e aconselho usar o metrô (linha 1 e o custo do bilhete ida e volta é de 5 euros) ou trem urbano. Os horários da feira são das 15 às 22:30 (na segunda e terça) e das 10 às 22:30 no restante da semana. Mais informações aqui.