quinta-feira, 31 de março de 2011

A história da Itália por um italiano

Há algums dias, visitando os blogs da minha lista, deparei-me com um texto muito interessante sobre a história da Itália e, mais especificamente, sobre a sua Unificação. Quem o escreveu foi um italiano chamado Franco, que atualmente mora no Brasil e escreve o blog Brasil-Itália: Dois Corações e Uma História

Pedi para ele se podia traduzir o texto para o português e ele me autorizou. Quem quiser conferir o texto original, o link é 150 anni dell'Unità d'Italia. Todo o conteúdo que reporto abaixo é uma tradução simples e não profissional, sem quaisquer interventos ou comentário da minha parte.


Os 150 anos da Unificação Italiana 
(por Franco, 17/03/2011)

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Hoje na Itália é feriado nacional para a comemoração dos 150 anos da Unificação Italiana. É muito pouco, se pensarmos bem, considerando também a história milenar deste país. Logo, são somente 150 anos que a Itália está unida em uma única nação. Mas então, como era antes? Vejamos o que diz a História.
Há muito anos, ainda antes do nascimento de Cristo, a Itália era formada por um grande número de povos diversos. Foi no ano 6 a.C. que um certo Caio Júlio César Otaviano Augusto, mais conhecido por Otaviano ou Augusto, primeiro imperador romano, conseguiu submeter todas as 46 populações da península italiana, unificando-as definitivamente sob o domínio de Roma. E treze anos mais tarde, no ano 7 d.C., dividiu a Itália em onze regiões, mais ou menos como as conhecemos hoje.
Tudo isso durou alguns séculos, quando, em 535, houve uma guerra que se estendeu por 18 anos, alimentada pelo desejo de conquista e de expansão do Império Bizantino. Mas o que aconteceu com o Império Romano? Durante todo este tempo, a Itália sofreu inumeráveis invasões bárbaras das tribos da Europa do Norte, levando ao fim o Império Romano do Ocidente. Como podem ver, desde o alvorecer de sua História, a Itália sempre foi invadida por povos estrangeiros e vivenciou incansáveis guerras e destruições. Talvez é por isso que ainda hoje, após milhares de anos, que nós italianos somos ainda malvistos pelos estrangeiros. Mas continuemos com a história.
Só para variar, em 568, os longobardos, outra tribo do norte europeu, invadiram a Itália e se estabeleceram por dois séculos aproximadamente. Inicialmente, pretendiam ficar separados dos povos italianos, mas com o tempo acabaram por se misturar sempre mais com os latinos e tentaram, tendo como exemplo os romanos e ostrogodos, reunificar a península para dar base a um novo reino. A um certo ponto, em meados do século VIII, os nossos “primos” franceses tiveram a bela ideia de ter também um império e, graças a Carlos Magno, em 774 conquistaram parte do reino dos longobardos (resumindo, tomaram metade da Itália, o Norte e o Centro). Então, como podem ver, houve outra guerra, outra invasão e um outro povo para comandar a Itália, ainda por cima, um povo parecido e próximos a nós... e depois alguém se espanta quando dizemos que os franceses não nos são muito simpáticos!
Nos primeiros séculos depos do ano mil, o desejo de autonomia e liberdade levou a um significativo crescimento das Repúblicas Marítimas (Amalfi, Gênova, Pisa e Veneza) e, mais tarde, das Comunas, favorecendo o renascimento da economia e das artes que levará ao Renascimento. Mas vejamos um pouco em detalhe. É justamente nesse período que se desenvolve na Europa um sistema político conhecido pelo nome de Feudalismo, com a  contrução de colônias fortificadas e cercadas por muros, onde se encontrava a morada do Senhor Feudal (o castelo), os armazéns com produtos alimentares, ferramentas de trabalho e armas, as casas dos funcionários e, ao redor, diversas unidades coloniais e produtivas. As pessoas que rodeavam o castelo possuiam relações de dependência bem precisas com o Senhor Feudal. Está aí a razão de tantos castelos, fortalezas e muralhas que vemos hoje viajando pela Itália. Mas como nem todos gostavam de se submeter a um Senhor, nasceram então as Comunas.
Mas não serviu para grande coisa, porque em meados do século XIII a Itália viu nascer uma outra forma de governo, a Signoria, em que os chefes das famílias mais importantes se tornaram “Senhores” de tais Comunas, aos quais lhe era atribuído o título de  “Duque”. Enfim, as Senhorias evoluíram-se em Principados com dinastias hereditárias. Resumindo, o filho do Duque de Mântua, por exemplo, tornava-se Duque ou Senhor com a morte do pai. Isso aconteceu quando os Senhores, reconhecendo o imperador (francês ou alemão) e pagando uma quantia em dinheiro, foram legitimados e reconhecidos como autoridade pelos súditos e príncipes. Tal mudança foi possível graças à incapacidade dos soberanos alemães de manter a ordem no norte da Itália e da facilidade que os Senhores encontravam para ser reconhecidos como autoridade legítima. Entre as Senhorias mais importantes podemos citar os De Medici, os Sforza, os Visconti e os d’Este. Todas elas contribuiram intensamente na cultura e na arte italiana, mas nem é preciso dizer que elas lutavam entre si.
Foi exatamente neste periodo que surgiu o Renascimento, um período artístico e cultural da história europeia que se desenvolveu em Florença entre o final da Idade Média e início da Idade Moderna, em um arco de tempo que vai de meados do século XIV até o século XVI, com diferenças disciplinares e territoriais. Graças a tais literatos e intelectuais, entre os quais se destacam as figuras universais de Dante, Petrarca e Boccaccio, que proporcionaram intercâmbios culturais sem levar em conta os confins regionais e locais, a língua italiana douta teve um rápido desenvolvimento, evoluindo-se e difundindo-se nos séculos seguintes até mesmo nas mais difíceis intempéries políticas, mesmo que permanecendo por muitos séculos a língua veicular exclusiva das classes mais cultas e dominantes, sendo progressivamente e indistintamente adotada como língua escrita em cada região italófona, sem considerar a nacionalidade dos seus princípios.
Até aqui a Itália sempre foi invadida, repartida, dividida e comandada por povos estrangeiros, sem deixar de lembrar que bem no coração da nação o Estado Pontifício fazia guerras e procurava ampliar seus próprios domínios. Foi aproximadamente no final do século XVIII, com a chegada das tropas napoleônicas na península, que começou a difundir cada vez mais entre a população um sentimento de nacionalismo italiano. De consequência, houve guerras para a libertação do poder francês, mais guerras para combater o Império Austríaco, outras contro os Bourbons, etc. Eis que então nasce a Carbonária e personagens como Silvio Pellico, Giuseppe Mazzini e Camillo Benso, conde de Cavour. Foi justamente Mazzini que, em 1831, fundou a Jovem Itália, um movimento cujo objetivo era transformar a Itália em uma república democrática unitária, segundo os princípios de liberdade, independência e unidade. Obviamente, nem tudo foi fácil e somente depois de anos de batalhas, e graças também a homens como Giuseppe Garibaldi, que no dia 17 de março de 1861 o parlamento subalpino proclamou Vittorio Emanuele II não rei dos italianos, mas “rei da Itália, por vontade de  Deus e da nação”.
Bom, a Itália até aqui estava unida em uma só Nação, mas não pensem que já acabou, porque houve ainda muitos problemas graves que o novo Estado teve que enfrentar. Essa nova Itália tinha reunido povos diversos pela história, pela língua falada, pelas tradições culturais e até religiosas. Não foi uma empresa fácil, visto que ainda hoje esta união não é assim tão forte como parece.
É exatamente este o ponto: a Itália certamente é uma nação unida e cada pessoa, nascida ou criada na Itália, sente-se um italiano. Mas todas estas guerras, todas estas invasões ocorridas durante séculos, para não dizer milênios, todas estas divisões entre Províncias, Senhorias, Ducados, Comunas e outras tantas, criaram uma espécie de “independência” local que nenhum outro Estado possui. Por toda nossa existência como Nação, tivemos invasões não só de povos vindos de terras longíquas, como a Mongólia ou a Dinamarca, mas tanbem de países de fronteiras como a França ou a Áustria, que nos declararam guerra e procuraram nos dominar. É justo, porém, dizer que todas estas invações, todos estes povos que se instauraram na Itália durante séculos, deixaram uma marca evidente na cultura e na vida dos italianos, visíveis na arquitetura, nos hábitos, na culinária, que fazem da Itália um país único no mundo. Além disso, também nesta mesma Itália, os vários reinos existente guerreavam entre si, antes de todos o Estado Eclesiástico. Consequentemente, para todos nós, qualquer habitante de um outro país, como também de outra cidade, era tido como inimigo. Ou pelo menos era visto com desconfiança, posto que podia ser qualquer um que queria roubar os nossos territórios e nos comandar.
Daí a razão de ainda hoje, em 2011, um milanês não simpatizar muito com um napolitano (é só um exemplo). E é sempre por este motivo que temos muito ciúme das nossas tradições. A “globalizzação” não foi feita para nós. Eis porque, ainda hoje, um italiano não se sente “italiano”, mas romano, milanês, toscano e por aí vai. Esta “geolocalização” de uma Região ou de uma cidade específica, e não de uma Nação, é fruto do nosso passado e de tudo aquilo que tivemos que passar. Como notou Allan no seu blog, é mais fácil que um italiano se sinta europeu que italiano. Nós, italiano, sentimo-nos unidos em uma única Nação somente quando estamos no exterior ou quando joga a Seleção Italiana. Mas isto conhecemos bem, portanto é inútil nos criticar por este nosso defeito, porque faz parte das nossas raízes e do nosso ser. Se quiserem um povo mais aberto, mais “global”, melhor desistirem dos italianos, porque sabemos fazer tantas coisas, mas não conseguimos ser diferentes.

De qualquer forma, parabéns pelos 150 anos da Unificação Italiana. Viva a Itália!

6 comentários:

  1. Ju li a matéria. Excelente!! Obrigada por ter enviado pra mim, adorei!

    Beijos querida!

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  2. Grazie per aver pubblicato questo post e per avermi menzionato nel tuo blog. E' un onore per me condividere le mie idee e i miei "lavori" con persone che, come te, sanno apprezzare ma anche criticare quello di buono e di sbagliato c'è nei nostri due Paesi.

    Um grande abraço.

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    1. Possiamo parlare in Facebook? Sono brasiliano di famiglia italiana, amo l'italia più che tutto!Il mio nome in fb è Mathy Tessarini Ricci

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  3. Oi Juliana, vim te conhecer também. ;)

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  4. Juliana,

    Itália, 150 anos. Brasil, ainda em formação. Como esse mundo pequeno é grande, não?

    :)

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  5. Ciao Franco,
    sono io che ti ringrazio per avermi concesso il tuo testo.
    Um abraço

    Seja bem-vinda, Val.

    Allan, essas curiosas coincidências às vezes nos espantam! Seja bem-vindo.

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