quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Há quem diga que a vida na Europa é só glamour...


Muitos brasileiros, até aqueles mais escolarizados ou viajados, acham que os europeus levam uma vida de rico. Quando digo que moro aqui na Itália e que de vez em quando faço algumas viagenzinhas pela Europa, as pessoas já imaginam que eu moro em um apartamento luxuoso no centro da cidade, que ando para cima e para baixo com carros do ano, que só me visto com roupas da alta costura made in Italy e que sou assídua frequentadora dos locais mais badalados das capitais italianas. Quem dera! Também sonho com esta vida, mas a realidade é outra.

Não sou rica, nunca fui. Pelo menos de dinheiro. Meus pais sempre fizeram de tudo para que pudéssemos ter uma vida confortável. Meus irmãos e eu estudamos a vida toda em escolas públicas e, mesmo assim, conseguimos passar e nos formar em uma das melhores universidades públicas da América Latina. Foi com essa dedicação e perseverança que finalmente consegui realizar um sonho dos tempos de faculdade: vir para a Itália estudar. Economizei cada centavo desde quando comecei a trabalhar, sem sequer imaginar que ganharia uma bolsa para cursar um mestrado em uma das mais conceituadas universidades italianas. 

Vim para cá, estudei, casei e nunca levei a vida de regalias do imaginário de muita gente. "Ah, mas você vive viajando!". Como eu havia escrito nos primeiros posts do blog, viajar aqui é muito mais fácil que no Brasil. As distâncias são menores, há mais opções de transporte e a viabilidade das estradas é mais fluente. Sem contar nas promoções que muitas companhias aéreas oferecem. Depois, a maioria das minhas "viagens" é mais "bate-e-volta", só quando tiramos férias é que vamos para mais longe.

Agradeço muito por morarmos em uma casa confortável, com garagem e jardim amplo. Não teríamos tanta sorte assim se morássemos em uma cidade maior como Milão, por exemplo, já que o custo habitacional aqui na Itália é altíssimo. Para um italiano da classe média, ter duas casas é um status symbol. Assim como para um brasileiro da mesma posição social, só que para nós é um sonho menos difícil de se realizar. 

Infelizmente, na região onde moro é impossível viver sem carro porque os transportes públicos seguem o horário das escolas e de pico. Fazer o que, interior é assim mesmo. O carro para nós (no sentido literal da palavra) é mais um bem de utilidade que de consumo. Quem mora em cidades maiores, tem mais sorte e pode contar com os transportes públicos. O uso das bicicletas também é largamente difuso e não há distinção entre rico e pobre, todo mundo usa. 

Em São Paulo, era preciso saber os lugares estratégicos para se comprar roupas e gastar pouco. Aqui, ao contrário, é fácil achar roupas boas e com preços baixos na porta de casa. Seja nas barraquinhas dos chineses (por que não? a qualidade muitas vezes é melhor que a dos italianos e eu nem ligo para grifes ou para as últimas tendências da moda, gosto é de me sentir bem com o que visto) que em lojas e outlets (quando fazem liquidação, melhor ainda). Fica impossível resistir e mais fácil de renovar o guarda-roupa a cada estação sem pesar muito no bolso.

Ter diarista ou faxineira na Itália é artigo de luxo. Só tem quem realmente precisa, geralmente velhinhos sozinhos ou pessoas super ocupadas. Graças ao "estágio" feito em casa, ajudando minha mãe nos afazeres domésticos, estou conseguindo sobreviver sem elas aqui também. Não tenho vergonha de dizer que sou eu mesma quem cuida da casa, pega na vassoura, limpa os banheiros, passa roupa e ainda cozinha, mesmo tendo uma ocupação fora de casa. O marido fica encarregado das reparações, do jardim, da pintura interna e, às vezes, até dos trabalhos mais básicos de pedreiro (o trabalho deles é bem valorizado aqui).

Não tem nada de mais levar marmita no trabalho ou na faculdade, na escola. O almoço feito em casa é visto aqui como hábito saudável e não como pobreza. Também não tem nada de mais sentar e comer seu lanche ou almoço na rua. Ninguém vai olhar para você como se fosse um mendigo. "Farofada" aqui é normal nos parques, lagos e praias porque ninguém està afim de pagar caro e comer mal.

É essa minha vida europeia, normal, sem luxo e nada de tão diferente da que eu levava no Brasil. 

2 comentários:

  1. Olá, você saberia me dizer se Udine é uma boa cidade para viver com a família (em relação a transporte, escola, qualidade de vida..)? Muito obrigada!

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    Respostas
    1. Ola Ale,
      Infelizmente nao conheço Udine e nem a regiao... nao sei como tirar sua duvida...

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