Carnaval em Roma, Johannes Lingelbach |
Ontem acabou, em parte, uma das festas mais populares e antigas do mundo, o Carnaval. Sempre gostei da época do Carnaval: na escola fazíamos nossas máscaras coloridas com tanta purpurina, minha mãe e minhas avós faziam fantasias para a criançada, as ruas ficavam todas decoradas para a ocasião ou cheias de confetes e serpetinas. Adorava me fantasiar e todo ano tinha uma fantasia diferente (do palhaço ao índio) para desfilar pelas ruas da cidade onde passava o Carnaval (no sul do estado de Minas Gerais) ou brincar na matinê. A única coisa que não consigo gostar é aquela apelação à nudez, cada vez mais exagerada. Podem até me chamar de feminista barata, mas não vejo um motivo para colocarem várias mulheres semi-nuas rebolando e mostrando tudo.
Colombina e Arlequim |
Esta festa que tanto agrada os pequenos (e também muita gente grande) não é uma manifestação diabólica e do mal, como muitos dizem por aí. O Carnaval, de tradição católico-cristã, tem suas origens lá no Antigo Egito e na Mesopotâmia, passando pela Antiguidade Clássica, com as festas dionisíacas (Grécia) e a saturnália (Roma). Todas elas tinham um mesmo ponto em comum, ou seja, a temporânea dissipação das obrigações sociais quotidianas e das hierarquias para dar lugar à desordem e às brincadeiras, etapas necessárias ao renovamento do ciclo da vida. As máscaras e fantasias, elementos característicos do Carnaval já usados séculos atrás, não serviam para esconder a própria identidade, mas remeter a uma outra. Dizem até que era uma forma que os mortos encontravam para encarnar nos vivos durante as mudanças cíclicas para a chegada da primavera (é, eu sei, uma viagem total).
Mas como é o Carnaval na Itália? Além do famoso e tradicional Carnaval de Veneza, com todo aquele desfile de máscaras e suntuosidade, há também outras manifestações tão famosas quanto espalhadas pela península. Entre eles estão o Carnaval de Viareggio, na região da Toscana, um dos mais importantes da Itália e da Europa, o de Fano, na região de Marche, o de Cento, na Emilia Romagna, que até já desfilou no Rio de Janeiro com as escolas campeãs do grupo especial, o de Putignano e Massafra, na Puglia, todos eles marcados por muita alegria e desfiles de carros alegóricos. O Carnaval de Ivrea, na região do Piemonte, tem como tema a Idade Média e, consequentemente, as fantasias e os jogos evocam tal período. A atração mais famosa e símbolo desse carnaval é a Battaglia delle Arance (Batalha das Laranjas) - tem até grupos destinados a atirar laranjas nos carros alegóricos. Todos esses carnavais têm um só fim: divertir o povo.
Carnaval de Viareggio (foto: albino.lemarmotte.it) |
Saindo um pouco dos lugares onde o carnaval é tradicional, o que eu notei é que, em muitas cidades, parece ser uma festa mais para crianças. Os municípios organizam os desfiles e os pais levam seus filhos fantasiados para seguir os carros, sendo que muitas vezes nem tem música. Mas mesmo assim as crianças se divertem jogando confetes e serpentinas nas ruas ou colorindo carros e muros com um tipo de serpentina em spray (que não tem nada a ver com aquela espuminha abominável do nosso carnaval). O Carnaval aqui não é feriado, nem mesmo na terça-feira, e por isso muitas festas e desfiles são feitos no final de semana anterior e no do próprio Carnaval. Um brasileiro que vem para cá, acaba estranhando no início a falta de animação ou dos dias de folga. Sempre digo que se aqui fosse verão nesta época, talvez os italianos ficariam mais entusiasmados e a festa deixaria de ser apenas das crianças.
Carnaval na Itália também é sinônimo de doces. É muito comum encontrarmos nos supermercados e confeitarias uma infinidade de doces carnavalescos, como as famosas chiacchiere, bugie, fritelle, zeppola, doces de chocolate, de castanhas, de ricota... uma delícia para nossos olhos e paladar. Geralmente são doces feitos com massas finas, fritos e cobertos de açúcar de confeiteiro e são tradicionalíssimos em todo o país, variando de região para região (veja aqui a história dos doces carnavalescos em italiano).
Chiacchiere, um dos tradicionais doces carnavalescos na Itália |
Nos meus primeiros meses em território italiano, achei curioso o Carnaval em Milão e nos municípios próximos ser no sábado da Quaresma. É que na maior parte da arquidiocese de Milão segue-se o rito ambrosiano, relativo ao santo padroeiro da cidade, Santo Ambrósio. Diz a tradição que o santo, na época bispo de Milão, tardou a voltar de uma peregrinação, marcada para o fim do Carnaval. Seus fiéis esperaram a volta dele para o início das celebrações da Quaresma, o que fez com que esta fosse adiada para o primeiro domingo após o Carnaval e não na Quarta-Feira de Cinzas (como no rito romano).
(Depois escrevo e publico as fotos do Carnaval de Veneza 2011!)
Ju
ResponderExcluirÉ por aqui o carnaval acontece qdo os demais já foram finalizados.
O carnaval neste pedaço de mundo é bem diferente se comparado ao do Brasil, tem menos animação mas não menos divertimento.
Qto a falta de roupa das "musas brasileiras", lamentável.
Um abraço
Oi, Celia!
ResponderExcluirUma vez ouvi no radio que o Carnaval era a festa das crianças por excelencia. Disseram que até superou Santa Lucia e o Natal.
Também lamento muito a falta de roupas das "nossas beldades". Cada vez menos roupa e fantasia.
Um otimo dia!