Domingo fez 5 meses que
voltamos de uma viagem a uma das regiões mais bonitas da Itália: a Sicília. Ida
e volta que duraram 13 horas de estrada, viagem cansativa, mas que valeu a
pena. Atravessamos de norte a sul toda a bota, percorrendo
paisagens que a cada quilômetro nos
mostravam belezas tão diferentes e perdendo um bom tempo na interminável rodovia Salerno-Reggio Calabria...
Lombardia - Sicília: acho que foi a viagem de carro mais longa que fiz. Créditos: Google Maps |
Para
chegar até a ilha, há uma balsa diária a
cada 40 minutos que liga as cidades de Reggio Calabria a Messina. A viagem de
travessia dura no máximo meia hora e os preços das passagens variam de acordo
com o tipo de veículo a ser transportado. Informações mais detalhadas no site Trasporti sullo stretto.
Embarque de veículos no porto de Villa San Giovanni, Calábria |
A balsa que faz a travessia no Estreito de Messina. Créditos: Trasporti sullo stretto |
Características gerais
Com seus quase 26 mil km², a Sicília é a maior ilha
do Mar Mediterrâneo e a maior região italiana. Seu território está dividido em
nove províncias, 390 municípios (comuni) e sua capital é Palermo, cidade
situada no noroeste da ilha. É banhada pelo Mar Tirreno a norte, ao sul pelo
Mar Mediterrâneo, a leste pelo Mar Jônico e a nordeste pelo Estreito de
Messina, canal que separa a península itálica da Sicília. Pertencem também ao
território siciliano os arquipélagos das Eolie/Lipari, Egadi, Pelagie, Ustica e
Pantelleria, ilhas de origem vulcânica e metas de turistas que procuram beleza
natural e lugares paradisíacos.
O clima é de tipo
mediterrânico, com invernos amenos e verões muito quentes e secos. A melhor
época para visitar a região é na primavera (fevereiro/março/abril); além das
festas em várias cidades, nossos olhos são agraciados com o lindo espetáculo da
natureza composto de campos verdes e diversas espécies de flores. Para curtir
uma praia tranquilamente sem movimento de turistas e o calor sufocante,
aconselho a segunda metade do mês de setembro e o início de outubro (mas é
sempre bom verificar antes a previsão meteorológica porque o tempo anda muito
desregulado ultimamente).
A Sicília conta com cinco lugares declarados Patrimônio da Humanidade pela UNESCO por sua importância histórica, artística, arqueológica e natural. São eles: a Villa Romana del Casale em Piazza Armerina, o Vale dos Templos de Agrigento, as Ilhas Eólias, as cidades barrocas do Vale de Noto e Siracusa e as Necrópoles Rupestres de Pantalica. A Sicília também possui outro patrimônio, a Opera dei Pupi, o teatro de marionetes símbolo das tradições da ilha que está na lista dos Patrimônios Orais e Imateriais da Humaninade da UNESCO. Motivos mais que válidos para incluir a Sicília no roteiro de viagens pela Itália.
A Sicília conta com cinco lugares declarados Patrimônio da Humanidade pela UNESCO por sua importância histórica, artística, arqueológica e natural. São eles: a Villa Romana del Casale em Piazza Armerina, o Vale dos Templos de Agrigento, as Ilhas Eólias, as cidades barrocas do Vale de Noto e Siracusa e as Necrópoles Rupestres de Pantalica. A Sicília também possui outro patrimônio, a Opera dei Pupi, o teatro de marionetes símbolo das tradições da ilha que está na lista dos Patrimônios Orais e Imateriais da Humaninade da UNESCO. Motivos mais que válidos para incluir a Sicília no roteiro de viagens pela Itália.
História
A Sicília foi alvo de muito
colonizadores por causa de sua posição estratégica: era um porto seguro no
meio da rota comercial marítima entre Ocidente e Oriente. A ilha foi
disputada pelos fenícios e gregos, um dos maiores povos conquistadores da
Antiguidade.
Os gregos levaram a melhor sobre
os fenícios, conseguindo a hegemonia do Mediterrâneo.
Começa, então, a colonização grega na Trinacria (a ilha dos
três promontórios, devido a sua forma triangular) que durou cinco séculos e
levou a Sicília e a Magna Grécia (o atual sul da Itália) à sua máxima expansão
comercial, urbana e artística. São testemunhas daqueles séculos de esplendor os
diversos templos dedicados às dinvindades mitológicas e teatros localizados em
cada canto do atual território.
Templo da Concórdia, Parque Arqueológico do Vale dos Templos de Agrigento |
Com as
Guerras Púnicas (conflito entre as Repúblicas de Roma e Cartago entre os
séculos III e II a.C.), a Sicília passou
para o domínio dos romanos.
A política de colonização da nova província se
caracterizou principalmente pela exploração de seu território, com
o confisco de terras e a criação de latifúndios para atender às
necessidades de Roma; a nova província foi, assim, transformada no
celeiro da capital. É durante o Império Romano que a Sicília volta aos tempos áureos, assistindo à reconstrução de teatros e anfiteatros de época grega e à
edificação de vilas residenciais privadas.
Mosaicos do IV século d. C. na Villa Romana del Casale, em Piazza Armerina |
O Império
Romano do Ocidente chega ao fim por volta do ano de 476 e a Sicília passa a ser anexada ao
Império Romano do Oriente, com sede em Constantinopla (atual Istambul,
Turquia). Começa a era de domínio bizantino que durou três séculos e levou à consolidação da
tradição religiosa na ilha, cristianizada desde
o IV século. Durante este período, foram
construídas igrejas e catedrais cristãs sobre os templos pagãos.
Na Idade Média, os árabes conquistam
a ilha e fundam o Emirado da Sicília.
Os quase dois séculos de dominação islâmica no território contribui para uma
abertura cosmopolita graças ao crescimento comercial da capital Balarm, a atual
Palermo. A herança árabe é
encontrada hoje nos nomes de diversas localidades sicilianas, nas expressões dialetais, na estrututura dos antigos bairros, no
artesanato, na culinária, no gosto pela
decoração, além das obras arquitetônicas.
Catedral de Palermo, uma junção de arte árabe e bizantina. Créditos: Wikipedia Italia |
A decadência da dinastia árabe abre o caminho para os normandos, povos oriundos da Escandinávia, fundarem o Reino da Sicília.
Por culpa de um jogo de interesses com a Igreja, os novos conquistadores acabam sendo praticamente obrigados a construir templos cristãos sobre as mesquitas muçulmanas; a Sicília, então, reconquista o cristianismo, mas sem cancelar
as obras sociais no campo da política, da economia, do direito, das artes e das
ciências deixadas pelos antecessores islâmicos.
Antiga Igreja de São Pedro e a Torre Normanda da cidade de Calascibetta, na província de Enna. Os normandos incorporaram os elementos da arquitetura árabe criando o estilo árabe-normando |
Frederico II, duque da Suábia (região histórica que compreendia os atuais
territórios do sul da Alemanha, Suíça, Áustria e França) e descendente dos
normandos, governou o Reino da Sicília na Idade Média. Seu reinado foi marcado
por uma forte inovação artística e cultural, intenta a unificar terras e povos
de culturas diferentes (gregos, latinos, árabes e judeus) que haviam sido
separados pela Igreja. Com sua morte, a Sicília entra em um longo período de
crise marcado por disputas feudais e pelo transferimento da capital do reino
para Nápoles, agora sob o domínio dos angevinos (pertencentes à
Casa de Anjou, dinastia do antigo Reino da França).
Em 1282, o descontentamento pelo deslocamento da capital do Reino da Sicília
para Nápoles e a oposição ao domínio francês dos Anjous foram as causas
principais do movimento separatista conhecido como Vésperas Sicilianas. A ilha
se proclamou independente e elegeu como governante o rei de Aragão; o
Reino da Sicília ficou dividido em duas partes (Reino da Trinacria e Reino de
Nápoles), embora conservassem o mesmo nome.
A Sicília passa a ser vice-reino da Espanha em 1415. Se por um
lado os três séculos de dominação espanhola foram marcados por mais crises e
revoltas populares, por outro viram nascer, além dos fortes militares de
defesa, a edificação de igrejas, praças e palácios em estilo barroco, traço
distintivo da arte e da arquitetura sicilianas atuais.
Com o Tratado de Utrecht em 1713, o Reino da Sicília passa para a Casa
de Savoia e se separa de Nápoles. Daí por diante, a Sicília cai sob
domínio dosaustríacos em 1722 e dos Bourbons em
1734, até ser anexada pelo Reino da Itália em 1861 graças à campanha de
Garibaldi pela Unificação Italiana.
Anos de conflitos e de descentralização territorial acabaram por acentuar
antigos problemas ligados à ilha, como o atraso social, a emigração em massa,
os crescentes latifúndios e as organizações
mafiosas. Com a proclamação da República Italiana em 1946, a Sicília
passa a ser administrada com base em um estatuto especial, uma forma de governo
mais autônoma concedida a algumas
regiões da Itália.
Tradições
Como todo o sul da Itália, a Sicília também é muito arraigada às antigas
tradições, transmitidas há séculos de geração em geração, principalmente as de caráter religioso. A época mais
intensa de manifestações é a Semana Santa, muito sentida e
celebrada em diversas cidades com ritos e costumes de outros tempos.
Procissão da Semana Santa em Enna com os confrades encapuzados, em tradição da cidade de clara influência espanhola. Créditos: Marco Nicotra em Flickr |
Destacam-se
também as festas dos santos padroeiros, as encenações históricas e os festivais
folclorísticos, um mosaico de heranças culturais deixados pelos povos que
conquistaram a ilha ao longo dos séculos e que hoje compõe a realidade
siciliana.
Outra tradição muito preservada na ilha é o Teatro dell'Opera dei
Pupi, representação teatral de marionetes de caráter popular. Os temas tratados
são as gestas franco-normandas que
se cruzam com lendas sobre a vida de santos e com os famosos acontecimentos
históricos. O eixo da ação é a luta entre o Bem e o Mal, representados pelo
cavaleiro e o mouro.
As marionetes do Teatros dei Pupi. Créditos: Catania in Sicily |
Em
algum lugar da Sicília, principalmente os mais turísticos, é comum ver pelas
ruas uma carroça colorida e puxada por um cavalo todo enfeitado com plumas; trata-se
do carretto siciliano, um dos símbolos da ilha. Sua origem
remonta ao século XIX, quando eram usados para o transporte de mercadorias e
rodavam as estradas construídas pelos Bourbons.
Um tipico carretto siciliano desfilando pelas ruas. Créditos: Catania in Sicily |
Detalhes de um carretto siciliano. Segundo alguns historiadores, começou-se a pintar tais carroças numa tentativa de deixá-las mais parecidas com as carruagens setecentistas usadas exclusivamente pela classe nobre. Créditos: Vito Caleca em Fotofocus |
Culinária
Se você vai a casa de um siciliano para aquela visitinha rápida, pode ter certeza que vai sair de lá com o estômago cheio. O siciliano não conhece economia à mesa
e, mesmo aquele mais pobre, sempre vai oferercer um prato de comida para seus hóspedes (e cá entre nós, é difícil recusar uma iguaria siciliana). É um
pensamente ainda arraigado no passado pobre e difícil da ilha, quando a comida
servia para fartar e saciar.
A gastronomia siciliana tem dois lados: um rico e elaborado, influência da
classe nobre, e outro simples e essencial, do povo. Mas os dois mundos
inevitavelmente se misturariam e criariam o que é, atualmente, a rica e variada
cozinha local. Outro ingrediente essencial para tal enriquecimento foi a sobreposição de inúmeras civilizações e
culturas que estiveram presentes na ilha ao longo dos séculos e que acabaram
reelaborando, com muita originalidade, os produtos oferecidos pela terra.
Os pratos típicos da culinária
siciliana são:
- Arancine, um bolinho frito e empanado feito com arroz e recheado com molho de carne moída e muçarela (a forma lembra uma laranja, daí o nome arancine).
- Panelle, são massas salgadas feitas com farinha de grão-de-bico, fritas e temperadas com pimenta-do-reino e limão. São geralmente servidas como recheio de pães com sementes de gergelim.
- Caponata di melanzane, uma espécie de molho agro-doce com tomates, berinjelas, pimentão, cebola, azeitonas e alcaparras.
- Olive schiacchiate, são azeitonas esmagadas, conservadas em salmoura e temperadas com alho, pimenta, pimentão e sementes de erva-doce.
- Pasta alla Norma, feita com massas curtas, molho de tomate, berinjela e ricota salgada.
- Cuscuz, preparado como manda a tradição árabe e servido com peixes e frutos do mar.
- Linguiças preparadas com pimenta ou sementes de erva-doce.
- Uma infinidade de pratos à base de peixe espada, sardinhas, anchovas e de carnes bovinas, suínas e ovinas.
- Queijos como a ricotta, o cacciocavallo ou o pecorino siciliano, feitos com leite de cabra e/ou de vaca.
- Azeite de oliva, muito usado na culinária do sul da Itália;
- Pão de São José, fragrante, macio e preparado em grande escala para o dia do santo, 19 de março.
- Doces como os cannoli (massa frita em forma de tubo e recheada com creme de ricota e pistache), a cassata, os frutos de Martorana (ambos preparados com uma massa de amêndoas, verdadeiras obras de arte) e a granita (raspadinha de gelo com suco de limão ou de outras frutas).
- Frutas como a laranja vermelha e o figo-da-Índia, símbolos da Sicília.
Pratos salgados típicos da Sicília |
Os doces e frutas típicos da Sicília |
O cultivo da videira na ilha foi introduzido pelos fenícios no
século VIII a. C. Hoje, as empresas locais propõem vinhos de
ótima qualidade que se caracterizam por um sabor forte e vigoroso.; os mais
famosos são o Marsala, o Moscato Passito di Pantelleria, o Corvo branco, tinto e rosado, o Nero d'Avola,
o Malvasia delle Lipari e o Etna nas versões branco, tinto e rosado. Como diz um ditado
local, comer sem beber é como um temporal sem chuva.
É por causa desta riqueza cultural, dos contrastes e das belezas paisagisticas e arquitetônicas e da
grandiosidade de seu povo que a Sicília se torna única e especial. E nos deixa
com aquela saudade gostosa quando partimos de lá.
Fontes:
Wikipedia
Arte e Storia: Sicilia. Bonechi Editori
Codeluppi, Cinzia. La cucina tradizionale siciliana: ricettario. Cybele, 2002
Como sempre, um post completíssimo e detalhado. Adorei alguns detalhes como o carro típico e as marionetas dos Teatros dei Pupi...
ResponderExcluirGrata por me fazer viajar
Beijinho
Ruthia d'O Berço do Mundo
P.S. Mudou a imagem de fundo, certo? Magnífica!
Obrigada por sua visita e seu precioso comentário, Ruthia!
ExcluirGosto muito desta rica troca de culturas.
Beijinhos e uma boa semana!
P.S.: Mudei a imagem de fundo sim. Descobri há pouco esta nova função :-)
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Adorei o post, pretendo fazer essa viagem em dez/2014 , já estou me organizando, vou fazer um curso em Malta e pegar o ferry a sicilia!
ResponderExcluirDe Pozzalo a Palermo de carro, o que voce acha?é perigoso?dá para fazer tranquilamente, terei 9 dias para percorrer esse trecho, e pretendo passar 2 noites em Taormina, uma na Calabria, 1 em Corleone !:)
Olá, Nathasha!
ExcluirNão sou uma grande conhecedora das estradas sicilianas, mas pelo que vi não achei assim tão perigosas. Algumasnão são bem sinalizadas e por isso recomendo um bom GPS para se orientar.
Voltei da Sicilia no mês passado e ler este post aumentou ainda mais minha saudades! Amei aquela ilha, onde passei 15 dias maravilhosos, e estou certa de que voltarei! Obrigada pelo site, é muito legal.
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